terça-feira, 21 de outubro de 2008

Memórias de alguém que deixou Cascavel

O texto que você confere a seguir foi enviado por Carlos Montagnoli. Hoje ele mora em São Paulo e me mandou este texto por e-mail, não com a intenção de que fosse publicado, mas, como achei interessante, pedi autorização para colocar ele no Blog.
O que chama a atenção é o relato feito por ele, da Cascavel de tempos atrás.
Ele é alguém, que não está aqui, mas que ainda sente saudades desse lugar. Poderia afirmar que.. A Sua Vida é Cascavel..
Texto na integra:
Conheci cascavel em 1974 numa viagem com um amigo vendedor viajante e me apaixonei.
A viagem era de férias e o propósito maior era conhecer Foz do Iguaçu.No ano seguinte fui convidado a trabalhar como Representante Comercial no Paraná, mais precisamente as Regiões Oeste e Sudoeste. Cascavel era então uma bucólica cidade do interior. A Avenida Brasil não era asfaltada totalmente e a pista de pouso de chão batido era um pouco prá frente da Igreja santo Antonio. Eu era um jovem Anarquista, com os cabelos compridos e acho que fui o primeiro a usar bolsa tira colo. É lógico que a gauchada me olhava com certo deboche, mas meu jeito gozador fazia com que me enturmasse. Sempre me hospedei no Hotel Príncipe e mesmo me casando fiquei morando no hotel até alugar uma casa na Nereu Ramos. Quando estava na cidade, todo dia ia tomar chimarrão no hotel junto com muitas personalidades da cidade. Era jovem e meus rádios viviam sintonizados nas emissoras de são Paulo em ondas curtas. Cascavel só tinha a Radio Colméia e apenas um programa que me agradava. Era a Beatlemania comandada pelo Carlos Araujo, mais conhecido por Bindé. Eu o conheci numa banca de revistas perto da Discolândia e acho que éramos os dois únicos cabeludos da cidade. Bindé era metido a comunista. O Jornal Hoje estava nascendo. Era tempo de Jaci Scanagatta que encarnava a direita perniciosa. Eu vinha a são Paulo mensalmente e daqui levava discos recém saídos das gravadoras e o Bindé os tocava na Colméia para desespero de Paulo Martins seu diretor. Sepfhin Filho era o dono do Hoje, e lembro-me bem que naquela época o jornal era semanário e a maior vendagem foi quando a manchete de primeira página foi: Mulher da à luz e ganha um bezerro. Por esta mensagem da para perceber o quanto de interiorana tinha a nossa querida cidade. Imagine você uma cidade com essa mentalidade ter de ouvir Belchior, Ivan Lins e até Flora Purin que até hoje não sei onde achamos o disco e colocamos para tocar. Quem não sintonizasse a Gaucha ou a Farroupilha em ondas curtas, tinha que ouvi-las ou desligar o rádio. Veja bem meu caro Leo. Eu não comungava com as idéias políticas do Bindé, apenas como jovem tentava fugir do estereótipo conservador que no fundo eu era. Embora tivesse conhecimento de que em certa dose era explorado por ele, que sempre foi um filador (serrote) de cerveja de marca maior, a farra, o diferente me atraia. Sem contar que o jovem tem por tendência querer ser diferente da maioria. Como já disse ao Martini, estou colocando no papel, como se dizia antigamente, algumas passagens de minha vida. Não pense que estou escrevendo um livro, pois não tenho cultura para isso, apenas quero deixar para meus netos algumas coisas boas e ruins que fiz na vida e eles tomando conhecimento, espero que sigam as boas e descartem as más. Daí que precisava falar com ele que durante quatro anos foi meu companheiro de bobagens e vanguardismos na cidade onde meus filhos nasceram. Para encerrar e antes que você me pergunte, aí vão os motivos que me fizeram sair daí: Enquanto o Paraná era quase só estradas de terra, eu deitava e rolava em vendas, pois meus concorrentes tinham medo de encalhar nos lamaçais paranaenses. Quando Jaime Canet Junior foi governador, ele asfaltou quase todo o Estado e a concorrência foi muito forte. O Paraná ficou pequeno para três representantes e me convidaram para fazer o centro oeste do País e eu topei. Hoje já sexagenário, não sai de meus ouvidos a célebre frase do Jaci, justificando a transferência do aeroporto: Coremo o risco de uma astronave cair em cima do baracón da Camagril.